Monday, July 27, 2009

Mão Morta

Bandeira de Portugal
Já estava em falha para com os Mão Morta desde o início deste blog. A justiça tarda mas não falha e ela aqui fica feita com este post, em género de homenagem a uma referência... um icone, da cultura e da música portuguesa.
Mão Morta


Adolfo Luxúria Canibal durante concerto em 2004.
Informação geral
Origem Braga
País Portugal
Gêneros Rock alternativo
Post-punk
Noise rock
Avant-garde rock
Período em actividade 1984 - atualmente
Gravadoras Cobra Discos, NorteSul, BMG, Fungui, Área Total, Ama Romanta
Página oficial www.mao-morta.org
Integrantes
Adolfo Luxúria Canibal
Miguel Pedro
António Rafael
Sapo
Vasco Vaz
Joana Longobardi
Ex-integrantes
Joaquim Pinto
Zé dos Eclipses
Carlos Fortes
José Pedro Moura
Marta Abreu
Paulo Trindade

Prólogo: Fecha os olhos e deixa-te conduzir.
Estás em Budapeste. Inverno de 91. Ano 1 da queda do comunismo. É noite desde as 3 da tarde. O tempo está frio, gelado. Olhas à tua volta e vês uma cidade escura, de belos edifícios decrépitos, ruínas, fachadas enegrecidas pela poluição. Por todo o lado, filas de vendedores do mercado negro. As paredes estão repletas de cartazes, numa língua impossível, indecifrável. Tu sentes-te perdido. Mas eu conduzo-te. Segue-me.

Budapeste
Cá vou eu no meu Traby
De bar em bar a aviar
Sempre a abrir a noite toda
Sempre a rock & rollar

Charro aqui charro ali
Mais um vodka p'ra atestar
Corro Peste corro Buda
Sempre a rock & rollar

As noites de Budapeste
São noites de rock & roll

P'las caves da cidade
São só bandas a tocar
Pondo tudo em alvoroço
Tudo a rock & rollar

Mulheres lindas de morrer
Mini-saias a matar
Não tem fim o reboliço
Tudo a rock & rollar

As caves de Budapeste
São caves de rock & roll

Cá vou eu no meu Traby
De bar em bar a aviar
Sempre a abrir a noite toda
Sempre a rock & rollar

Charro aqui charro ali
Mais um vodka p'ra atestar
Sempre a abrir a noite toda
Sempre a rock & rollar'

As noites de Budapeste
São noites de rock & roll

Vertigem
Ficamos horas a brincar sob a noite serena de verão
sentindo a leveza do futuro na ponta dos dedos
a confiança do absoluto
e a alegria do presente em estrofes perdidas nos
confins dos séculos
num espantoso enlace com a beatitude
e as ideias terríveis
que nos assaltam o cérebro num faíscar de exaltação
demente
como se o desejo fosse magia
na vertigem dos carros roubados para ir até à praia
como se o sangue que corre mais forte em crescendos de
angústia
pudesse encharcar a terra e florir num outro espaço.

Vertigem

Depois estendidos no recato das dunas
a memória dos dias olvidada em agulhas rombas
ouvimos o jazz abrir a imaginação para deleites crueis
e labirintos obscuros
despertando monstros escondidos
esvoaçando vampiros sanguinários por entre as sombras
da realidade
num orgasmo de gritos sufocados e silêncios
circulares
a droga que nos ilumina a mente
em torrentes de lava e espasmos descontrolados
a encher a noite de fantasmas longínquos e rodopios
sonoros
o latido dos cães
num sarcasmo de conto de fadas.

Vertigem

Tudo é negro menos os nossos olhos
que dardejam luz no estupor da montanha incendiada
pelo sol levante
já os nossos risos nervosos
soltos na velocidade da paisagem
desfilam para trás num bater de asas aflito e
assustado
e o velho saxofone
como sereia rouca em calores de perdição
num sobressalto de vagas repentinas
abafa o chiar dos pneus
imprimindo correrias loucas ao granito macio da
estrada
com que o mar cava a areia até aos nossos pés.

Vertigem


Cão de Morte
No calor da febre que me alaga toda a fronte
Sinto o gume frio da navalha até ao osso
Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço
E a luz do sol a fraquejar no horizonte
Já desfila trémulo o cortejo do passado
Que me deixa quedo, surdo e mudo de pesar
Vejo o meu desgosto na beleza do teu rosto
Sinto o teu desprezo como um dardo envenenado

Morro Morro No altar de ti
Morro Morro No altar de ti

Sopra forte o vento na fogueira que arde em mim
Sinto a selva agreste nos batuques do meu peito
No cruel caminho em que me lança o desespero
Sinto o gelo quente do inferno do meu fim
No calor da febre que me alaga toda a fronte
Sinto o gume frio da navalha até ao osso
Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço
E a luz do sol a fraquejar no horizonte

Morro Morro No altar de ti
Morro Morro No altar de ti
Morro Morro No altar de ti
Morro Morro No altar de ti

Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço
Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço
Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço
Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço
Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço
Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço
Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço
Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço

Morro Morro No altar de ti
Morro Morro No altar de ti
Morro Morro No altar de ti
Morro Morro No altar de ti

Mão Morta é uma banda portuguesa formada em Braga, com estilo musical dificil de categorizar.

Biografia

1984-1988 - de Berlim ao primeiro disco

Em Outubro de 1984 Joaquim Pinto assiste em Berlim a uma actuação dos Swans. No final do concerto encontra Harry Crosby, baixista da banda nova-iorquina, que lhe pergunta se ele toca baixo; ante a resposta negativa de Joaquim Pinto, Harry Crosby diz-lhe que ele tem cara de baixista. Joaquim Pinto regressa a Braga, compra um baixo e, em Novembro desse ano, forma os Mão Morta, com Miguel Pedro na guitarra e Adolfo Luxúria Canibal na voz.

Em Janeiro de 1985 os Mão Morta estreiam-se ao vivo no Porto, no Orfeão da Foz, num concerto que contou com projecção de diapositivos de Fernando Almeida (Nandão). Apesar da boa recepção, consideram que o palco não está ainda suficientemente preenchido e decidem recrutar mais um elemento. Zé dos Eclipses entra então para o grupo, na guitarra, passando Miguel Pedro para a bateria, em acumulação com percussões, programações rítmicas, teclas e baixo, enquanto Joaquim Pinto continua no baixo, que acumula com teclas, e Adolfo Luxúria Canibal na voz.

Entretanto os Mão Morta são apurados, com base em três temas gravados em K7, para a final do 1º Concurso de Nova Música Rock, no Porto, e finalmente, em Novembro de 1985, Zé dos Eclipses estreia-se ao vivo com os Mão Morta, na Fábrica, em Braga, naquele que foi o segundo concerto da carreira da banda. Segue-se a final do 1º Concurso de Nova Música Rock, no Pavilhão Infante de Sagres, onde o grupo fica classificado em 4º lugar. No seguimento da participação nesse concurso os Mão Morta dão a sua primeira entrevista, pela voz de Adolfo Luxúria Canibal, a Fernando Sobral do Diário de Notícias, que escreve serem os Mão Morta "indiscutivelmente a melhor banda portuguesa do momento".

Insistindo na sua divulgação por via dos concursos de novas bandas, então em voga e mediaticamente acompanhados, os Mão Morta são apurados, através de quatro temas gravados em K7, para o III Concurso de Música Moderna, o mais importante evento do género, e apresentam-se ao vivo no Rock Rendez-Vous, em Lisboa, logo na 1ª eliminatória, no início de Fevereiro de 1986, e no mês seguinte na final. Deste III Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous os Mão Morta acabariam por obter o Prémio de Originalidade, que era o mais apetecível e prestigiante galardão em disputa depois da sua entrega no ano anterior aos Pop Dell’Arte.

Em Setembro Carlos Fortes entra para o grupo, na 2ª guitarra, e em Outubro de 1986 os Mão Morta têm a sua estreia internacional com um concerto em Vigo (Espanha), no El Kremlin, integrados na mostra Rock Vigo-Oporto 86. No decurso desta participação viria a frutificar uma amizade entre os Mão Morta e os Pop Dell’Arte, que também faziam parte do cartaz.

1987 foi um ano recheado de concertos, com duas primeiras partes aos Xutos & Pontapés, então em pico de popularidade, em Junho no Pavilhão Flávio Sá Leite, em Braga, e em Dezembro no Pavilhão Infante de Sagres, no Porto, perante milhares de pessoas. Mas o ano ficou marcado pela devastação do Cinema Império, em Lisboa, quando os Mão Morta, integrados no cartaz das Jornadas do Império, aí actuaram em Outubro juntamente com os americanos Gun Club: durante a enérgica prestação da banda, no segundo dia do evento, o público que lotava a sala não conseguiu manter-se quieto e sentado e, face à intransigência dos seguranças, iniciou uma verdadeira batalha campal, que continuou depois durante a actuação dos Gun Club…

Ao vivo no Fórum Lisboa, 2005

Mas 1987 foi também ano de prémios, com a RUT – Rádio Universidade Tejo a eleger, em Fevereiro, os Mão Morta como “a melhor banda nacional sem registo em vinil”, com a oferta de tempo de estúdio profissional para a gravação de dois temas, que viriam a ser editados em Agosto, juntamente com outros 4 temas entretanto gravados, em formato K7, pela Malucos da Pátria, agência de concertos com quem os Mão Morta tinham começado a trabalhar no final de 1986. Em Novembro os Mão Morta estreiam-se ao vivo na televisão, no programa juvenil Fisga, transmitido pelo canal 1 da RTP –Radiotelevisão Portuguesa.

Quando o jornal de música Blitz publica em Janeiro de 1988 as escolhas dos seus leitores sobre os melhores do ano anterior, os Mão Morta são surpreendentemente contemplados com diversas nomeações, surpresa ainda maior tendo em conta que são o único nome a aparecer sem qualquer disco gravado: surgem em 9º lugar na categoria de “melhor grupo nacional”, em 7º na de “melhor grupo ao vivo nacional” e em 8º na de “melhor cantor nacional”, com Adolfo Luxúria Canibal. Mas a ausência de disco não iria durar muito mais tempo, com a edição do álbum homónimo em Julho desse ano, através da editora independente “Ama Romanta” de João Peste, mentor dos Pop Dell’Arte. O disco tem boa recepção e leva os Mão Morta para a capa do Blitz e do suplemento cultural Mais do generalistaSemanário. Mas 1988 foi também ano de concertos e, para além da estreia dos Mão Morta nos grandes eventos estudantis, como as Recepções aos Caloiros da Universidade da Beira Interior, naCovilhã, e da Universidade do Minho, em Braga, fizeram ainda, em Outubro, a primeira parte dos britânicos Wire, no Pavilhão Infante de Sagres, no Porto, no lançamento do LP, um novo jornal de música que se posicionava mais atento à cena independente do que o Blitz, considerado demasiado mainstream, e sobretudo, já em Dezembro, as duas primeiras partes, no Pavilhão Carlos Lopes em Lisboa e no Teatro Rivoli no Porto, do australiano Nick Cave, o grande ídolo da banda e que, com os seus Bad Seeds, se estreava em Portugal. As boas prestações dos Mão Morta tiveram um eco mediático considerável e levaram mesmo Mick Harvey, guitarrista e velho cúmplice de Nick Cave desde os tempos dos The Boys Next Door, a tecer rasgados elogios à banda e a querer ir cumprimentá-los pessoalmente, secundado pelo próprio Cave.

O ano de 1988 termina com a publicação das escolhas dos leitores do LP sobre os melhores desse ano, em que os Mão Morta apareceram destacados em várias categorias: 1º lugar em “melhor álbum nacional”, “melhor capa de disco nacional” e “grupo revelação nacional”, 2º lugar em “melhor banda nacional” e “melhor canção nacional”, com o tema “Oub' lá”, 3º lugar em “melhor banda ao vivo nacional”, “melhor vocalista nacional”, com Adolfo Luxúria Canibal, “melhor concerto nacional”, com um concerto no Rock Rendez-Vous, “melhor visual nacional” e “melhor canção nacional”, com o tema “Aum”, e 4º lugar em “melhor canção nacional”, com o tema “E Se Depois”.

1989-1992 - do RRV ao Mutantes S.21

Face às escolhas dos seus leitores sobre os melhores de 1988, o jornal LP inicia o ano de 1989 dando honra de capa aos Mão Morta, reconhecendo-os como o grande acontecimento do ano. Entretanto, Adolfo Luxúria Canibal e Berto Borges – baterista dos também bracarenses Rongwrong, vencedores do III Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous em que os Mão Morta obtiveram o Prémio de Originalidade – haviam delineado uma colectânea que fizesse o retrato do grande frenesim musical que nesses anos caracterizava a cidade de Braga e tinham convencido o Município a patrocinar a sua edição: nascia assim o primeiro volume da série À Sombra de Deus, com o subtítulo de Braga 88. A colectânea teve um grande impacto mediático, não só por ser a primeira vez que, em Portugal, uma Câmara Municipal apoiava a cultura juvenil e editava um disco de bandas locais, mas sobretudo por finalmente estar disponível um registo do que era a afamada movidabracarense, de que muito se falava mas que poucos, fora de Braga, conheciam, tirando os seus representantes mais notórios Mão Morta, Rongwrong e Bateau Lavoir.

Apesar de ter sido um ano de grande actividade musical, 1989 acabaria por ficar para a história dos Mão Morta – e do rock em Portugal – como aquele em que Adolfo Luxúria Canibal infligiu a si próprio vários golpes numa perna. Sem concertos em Lisboa desde a primeira parte de Nick Cave & The Bad Seeds, em finais do ano anterior, os Mão Morta descem em Junho à capital para, em ambiente de grande expectativa e de acontecimento único a não perder, num Rock Rendez-Vous completamente lotado, se apresentarem como cabeça de cartaz. Não era a primeira vez que Adolfo Luxúria Canibal se mostrava com facas, mas ninguém esperava que durante a interpretação de Bófia, aos gritos de “sede de sangue!”, começasse a retalhar a coxa com vários golpes enquanto o sangue lhe corria pela perna, a ponto de provocar vários desmaios na assistência e de necessitar de um garrote para o tentar estancar, tendo no final da actuação ido de urgência para o hospital. Meses depois, em entrevista à televisão, justificava-se dizendo que o Rock Rendez-Vous estava demasiado cheio, com um ambiente muito pesado, “de cortar à faca”, e antes que pudesse acontecer alguma desgraça decidiu mostrar sangue, “porque o sangue acalma os ânimos”, mas com o calor da prestação não se tinha dado conta da gravidade das lesões…

Os Mão Morta começavam a preparar um novo disco, mas Joaquim Pinto, cada vez mais alheado do grupo, passava grandes temporadas sem dar sinal de si, faltando aos ensaios dos novos temas e sobretudo não aparecendo nos Estúdios de Paço de Arcos onde decorriam as gravações. Como consequência deste alheamento, o concerto que os Mão Morta deram em Janeiro de 1990 no Rock Rendez-Vous acabou por ser o último que contou com a presença do seu fundador, que seria substituído por José Pedro Moura, até aí nos Pop Dell’Arte, e que se viria a estrear como baixista da banda num concerto em Aveiro, em Março desse ano. Entretanto, o novo disco provocava também um corte de relações com a editora “Ama Romanta” e com João Peste, por desentendimentos quanto ao cumprimento das obrigações a que estavam vinculados, e a sua edição ficou adiada, na expectativa de que outra editora se interessasse. Isso não iria acontecer e Corações Felpudosseria editado apenas em Setembro de 1990 através da marca “Fungui”, a fábrica de sacos e carteiras de Vítor Silva, manager da banda desde os tempos da Malucos da Pátria. Mas antes, em Maio, num ano em que rarearam as prestações ao vivo, os Mão Morta, num lotado Cinema Alvalade, fazem mais um apoteótico concerto em Lisboa, na primeira parte dos suíços Young Gods, onde apresentam a integralidade deCorações Felpudos e que contou com a estreia ao vivo de António Rafael nas teclas. António Rafael já participara nas gravações do disco, enquanto músico convidado, mas com este concerto tornava-se oficial a sua entrada no grupo.

Apesar de todos os contratempos na edição de Corações Felpudos e da falta de concertos, no final de 1990 os Mão Morta encontravam-se novamente em estúdio a gravar aquele que seria o seu 3º disco: O.D., Rainha do Rock & Crawl. A editora independente “Área Total”, daGuarda, mostrara-se interessada em editar o Corações Felpudos, mas não tendo disponibilidade financeira para pagar o seu custo convencera a banda a editar um novo registo, gravado num estúdio mais barato. E em Janeiro de 1991, enquanto os balanços referentes a 1990 do semanário cultural Se7e e do jornal generalista Público incluíam Corações Felpudos como um dos melhores álbuns do ano, já os Mão Morta tinham um novo disco pronto. A sua edição estava prevista para Fevereiro, quando a banda se apresentou para dois concertos esgotados na nova sala lisboeta Johnny Guitar, mas por atrasos vários na feitura das capas, que acabaram por sair com cores adulteradas e com os rótulos da rodela de vinil por colar, a sua edição só aconteceria em Junho, num concerto na Covilhã, na discoteca Fábrica. Este seria também o último concerto de Zé dos Eclipses com a banda, uma vez que estava de partida para Santa Bárbara, nos EUA, primeira etapa de uma carreira de leitor de Português e de adido cultural que o levaria ainda a Santiago do Chile, no Chile, a Fez, em Marrocos, e a Paris, em França. Dois dias antes, num concerto em Santo Tirso, tinha-se estreado Sapo, anteriormente guitarrista dos Pop Dell’Arte, que o iria substituir na guitarra.

1991 contou com bastantes mais concertos do que o ano anterior, embora sem atingir o número a que a banda se habituara até 1989, mas sobretudo voltou a haver interesse mediático pelo trabalho do grupo, com o jornal Blitz a dar capa aos Mão Morta em Fevereiro, a propósito da edição, entretanto adiada, de O.D., Rainha do Rock & Crawl, e o Se7E a fazer outro tanto em Junho, tal como o semanário regional Minho. Por sua vez, em Dezembro, no seu balanço anual, o jornal Público inclui O.D., Rainha do Rock & Crawl na sua lista das dez melhores edições do ano.

Apesar disso, com os problemas que houve nas edições de Corações Felpudos e O.D., Rainha do Rock & Crawl e com um novo rarear de concertos, a moral da banda encontrava-se de rastos – em 1992 fazem um único concerto, em Abril, na primeira parte dos britânicos Jesus & Mary Chain, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, e mesmo esse com sabor amargo, com José Pedro Moura - retido por uma rusga policial no bairro do Casal Ventoso, onde a sua dependência de heroína o obrigara a deslocar-se - a ter de ser substituído à última da hora por António Rafael... Face à inércia que se instalava, Adolfo Luxúria Canibal convence Vítor Silva a apostar num novo disco e em Maio os Mão Morta entram novamente em gravações. Escolhem o melhor estúdio português da época, o Angel, onde se mantêm até Julho e onde conhecem o produtor e técnico de som José Fortes, com quem entram em perfeita sintonia. Apesar da ausência de José Pedro Moura, que aparece um único dia em estúdio, a banda ganha confiança e entrega-se de alma e coração à produção daquele que viria a ser o seu disco mais celebrado:Mutantes S.21. Editado no início de Dezembro, novamente pela marca “Fungui”, o disco, que é uma viagem pelos bastidores de nove cidades, ainda vai a tempo de ser contabilizado nos balanços anuais da imprensa, sendo “melhor disco nacional do ano” para o Diário de Notícias e incluído na lista dos dez melhores do ano do Público e do Se7e, enquanto o grupo é capa do Blitz e do Se7e.

1993-1995 - do Pop-Off à medalha de mérito

O magazine de cultura juvenil Pop-Off, difundido pela RTP2, apresentava semanalmente vídeo-clips por si realizados de bandas independentes e mais uma vez, a exemplo do que acontecera quando da edição de Corações Felpudos e de O.D., Rainha do Rock & Crawl, convida os Mão Morta para fazerem um vídeo de Mutantes S.21. O tema escolhido é Budapeste e para o realizar foi destacado Nuno Tudela, com quem a partir daí o grupo mantém uma relação de duradoura cumplicidade. O clip de Budapeste acaba por ser o mais solicitado num outro programa diário do canal 1 da televisão pública, o Vira o Vídeo, onde se mantém semanas a fio em 1º lugar do seu Top Vídeo, arrastando consigo um inesperado airplay radiofónico, que faria com que em 11 de Fevereiro de 1993 Mutantes S.21 entrasse no 28º lugar do Top Nacional de Vendas. Ainda nesse mês os Mão Morta fazem a capa da revista Académica.

O êxito de Budapeste e de Mutantes S.21 não poderia deixar de se reflectir na solicitação de concertos, tanto mais que o grupo contratara com uma nova agência de espectáculos (de Mário Dimas, um experiente agente), e 1993 é um ano de tournée triunfal, com várias actuações míticas. Iniciada em Março, com as primeiras partes dos americanos Tubes, no Pavilhão Carlos Lopes em Lisboa e no Coliseu do Porto, a tournée de Mutantes S.21 leva ainda os Mão Morta, como cabeças de cartaz, à Queima das Fitas da Universidade do Porto ou à Semana do Enterro da Universidade de Aveiro, onde o deboche em palco lhes vale uma interdição da academia por vários anos. Outros concertos desse ano ficariam gravados na memória, como em Março os confrontos que provocaram com a polícia em Mirandela ou em Junho a invasão do palco por uma fã com seios nus numa lotada Incrível Almadense, em Almada, mas nenhum se aproxima do que em Maio protagonizaram no Teatro-Circo, em Braga: a assistência, numa sala mais que esgotada, rendeu-se ao grupo e foi como se levitasse, completamente inconsciente dos seus actos, num histerismo colectivo de difícil explicação, para só aterrar no final, num Teatro-Circo destruído, de que quase só as centenárias paredes resistiram. Pelo meio tinha havido de tudo, desde mergulhos para a multidão até uma tentativa de sexo oral com Adolfo Luxúria Canibal por parte de uma fã mais incontrolada.

Esse concerto tinha tido como pretexto o lançamento de uma edição especial de Mutantes S.21, com um livro de banda-desenhada a ilustrar os diversos temas do disco, numa espécie de despedida ao velho vinil: Mutantes S.21 era também a primeira edição do grupo no novo suporteCompact Disc. O álbum teria ainda uma nomeação para os “Se7e de Ouro” de 1993, na categoria “melhor disco” (os “Se7e de Ouro” eram um prestigiado galardão anual instituído pelo semanário Se7e, que premiava as diversas manifestações dentro da área do espectáculo – música, teatro, cinema – que mais se tinham distinguido no ano), e em Novembro seria incluído na selecção “os melhores discos de sempre da música portuguesa”, o primeiro balanço sobre a edição musical portuguesa, organizado pelo Diário de Notícias.

Ainda em Novembro tocam com os britânicos Inspiral Carpets, na Grande Nave do Parque de Exposições, em Braga, na apresentação do 2.º volume da série À Sombra de Deus, cuja ideia de retrato do estado de criatividade da música bracarense tinha sido retomada por Miguel Pedro, ainda e sempre com o patrocínio da autarquia, e dão a primeira entrevista para uma televisão estrangeira, no caso a Lemon TV, daEscócia.

Mas antes já haviam despertado o interesse da multinacional BMG: os seus responsáveis estavam presentes no “Portugal Ao Vivo”, um espectáculo que em Julho enchera o Estádio de Alvalade com a apresentação ao vivo dos principais nomes que dominavam o top português de discos vendidos e em cujos ecrãs gigantes, nos intervalos das actuações, passavam os vídeo-clips realizados pela equipa do programa de televisão Pop-Off, e tinham ficado muito impressionados ao verem aquela imensa multidão cantar em coro o Budapeste cada vez que o clippassava no ecrã. Imediatamente contactaram o grupo e no final do mês os Mão Morta assinavam com a BMG um contrato por um disco, por opção da banda que não se queria comprometer por mais tempo, entrando em Dezembro em estúdio para a gravação do quinto disco.

Entretanto, os Mão Morta eram solicitados para entrarem num disco-tributo a António Variações, que seria editado em Janeiro de 1994 pelaEMI, com o título Variações – As Canções de António, e num disco-tributo a José Afonso, que seria editado em Abril pela BMG, com o títuloOs Filhos da Madrugada Cantam José Afonso, que receberia o “disco de platina” pelo número de vendas. Antes, em Março, era editado o seu primeiro disco para a BMG, Vénus em Chamas, no qual os Mão Morta se esforçam por não apresentar nenhum potencial êxito radiofónico, antes se espraiam por experimentalismos vários, tornando a digestão do álbum difícil para o grande público. Não impede que o grupo seja capa do semanário Blitz e do suplemento musical PopRock do jornal Público, bem como apareça na Primeira Página deste último, e, já em Julho, capa do suplemento Estilos do Diário de Notícias, nem que, no final do ano, Vénus em Chamas seja eleito “melhor disco do ano” pela Antena 3, canal juvenil da Radiodifusão Portuguesa, e incluído nos “melhores discos do ano” pelo Diário de Notícias ou pela VoxPop, revista da cadeia de lojas de música Valentim de Carvalho. No entanto, a gravação deste disco não tinha sido nada pacífica no seio da banda, a começar pelo seu título, originalmente apresentado como Fátima Radical, Bailarina, 22 Anos, com vários desentendimentos sobre o material a gravar, e a consequência foi a saída de Carlos Fortes dos Mão Morta, cujo último concerto oficial foi em Dezembro, na Gartejo, em Lisboa, embora continuasse a tocar com o grupo até ser encontrado um substituto.

Num ano de muitos concertos, com nova actuação em Maio como cabeças de cartaz na Queima das Fitas da Universidade do Porto ou na Semana Académica do Instituto Politécnico da Guarda, 1994 ficaria no entanto marcado pela participação dos Mão Morta num novo evento de estádio, o Filhos da Madrugada Ao Vivo, que teve lugar em Junho no Estádio de Alvalade, no quadro da Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura, e que juntou os diversos intervenientes no disco de homenagem a José Afonso.

Ainda em 1994, em Setembro, é finalmente editada a colectânea À Sombra de Deus – Volume 2 e o primeiro máxi-single do grupo, num regresso ao vinil, com variações sobre o tema Cães de Crómio incluído em Vénus em Chamas.

O Blitz, com o desaparecimento do semanário Se7e, decide instituir para a música um galardão que viesse ocupar o espaço deixado vago pelos “Se7e de Ouro”, e lança os “Prémios de Música Blitz”. Em Março de 1995 os Mão Morta são nomeados nas categorias “grupo nacional do ano” e “melhor vocalista masculino nacional”, através de Adolfo Luxúria Canibal.

1995 foi novamente um ano repleto de concertos, com os Mão Morta em Maio a serem cabeças de cartaz nas Semanas Académicas doInstituto Politécnico de Leiria e do Instituto Politécnico de Bragança, a participarem pela primeira vez no maior acontecimento estudantil português, a Queima das Fitas da Universidade de Coimbra, onde partilham o palco com os ingleses The Fall, e em Junho a integrarem o alinhamento do seu primeiro festival de Verão, o Imperial Ao Vivo, em Lisboa.

Apesar de Vénus em Chamas ter sido um disco complicado de vender e de ter furado as expectativas da editora, a BMG insiste em editar um novo registo e os Mão Morta propõem-lhe uma colectânea de temas antigos, só disponíveis em vinil, mas regravados de novo, o que é aceite.Mão Morta Revisitada começa a ser gravado em Agosto, na sala de ensaios da banda, em Braga, sob a direcção de José Fortes, que desdeMutantes S.21 nunca mais se divorciou do grupo, sendo editado em Outubro de 1995, com uma festa concerto em Palhais, a aldeia de José Fortes, e onde Vasco Vaz se estreia como guitarrista dos Mão Morta em substituição de Carlos Fortes. O disco tem boa recepção, com o jornal Blitz a dar capa ao grupo, e entra directo para o 12º lugar do Top Nacional de Vendas, em cuja lista se mantém várias semanas, sendo referido nos “melhores do ano” pelo semanário Expresso, pelas revistas de lojas de discos VoxPop e D.I.S.C.O. e pelas rádios XFM e Antena 3. Entretanto, em Outubro, o primeiro álbum Mão Morta é incluído pelo jornal Público na sua selecção “os melhores discos de sempre feitos em Portugal até aos anos 90”.

Em Dezembro de 1995 os Mão Morta recebem a Medalha de Mérito – Grau Prata da Cidade de Braga.

1996-1998 - do incêndio ao Coliseu

Em 1996 os Mão Morta dedicam-se sobretudo a tocar ao vivo, ano em que batem o seu recorde de concertos anuais, com destaque para a participação em Março como cabeças de cartaz no festival Combate Rock, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, durante a qual Adolfo Luxúria Canibal ataca violentamente o tipo de jornalismo musical praticado pelo suplemento PopRock do jornal Público (o que os baniria do jornal por vários anos...), a actuação em Abril na entrega dos “Prémios de Música Blitz – 1995”, no Coliseu dos Recreios, também em Lisboa, a ida em Agosto como cabeças de cartaz ao 4º festival internacional de Paredes de Coura ou as actuações também como cabeças de cartaz na Recepção ao Caloiro da Universidade do Minho, em Outubro, em Braga, e na Festa das Latas da Universidade de Coimbra, em Novembro.

Mas o ano, e o futuro, ficariam marcados pelo incêndio que, no final de Setembro, no acesso à ponte 25 de Abril, em Lisboa, destrói a carrinha que transporta o back-line e os instrumentos do grupo, quando se dirigia para um concerto em Tróia. Face à adversidade, os Mão Morta, em troca da substituição de todo o material ardido, assinam em Outubro um contrato para dois discos com a NorteSul, etiqueta discográfica do grupo Valentim de Carvalho que representava em Portugal as principais marcas de instrumentos. Outra consequência desse incêndio é o afastamento de Vítor Silva do management da banda, funções que exercia desde 1986, por no entender do grupo não ter estado à altura da gravidade do acontecimento.

Mas antes disso, em Junho, os Mão Morta recebem do encenador Jorge Silva Melo um convite, em nome do Centro Cultural de Belém, para musicarem poemas do falecido dramaturgo alemão Heiner Müller, a propósito da apresentação póstuma da peça Germania 3. A banda, com a colaboração da figurinista Ana Rita e da realizadora Mariana Otero, transforma o convite na concepção de um espectáculo multimédia, Müller no Hotel Hessischer Hof, que estreia em Janeiro de 1997 num CCB esgotado e eufórico. O espectáculo faz mais duas datas esgotadas na sala pequena do Centro Cultural de Belém e outras três, sempre esgotadas, no Teatro Garcia de Resende, em Évora, no Teatro-Circo, emBraga, e no Teatro Gil Vicente, em Coimbra. A gravação do espectáculo de estreia seria ainda editada em disco, em Maio, com entrada directa para o 20º lugar do Top Nacional de Vendas, onde se manteve quatro semanas, e em vídeo, em Fevereiro de 1998.

Em Maio de 1997, os Mão Morta ganham um “Prémio de Música Blitz - 1996” na categoria de “melhor vídeo-clip” – único ano em que essa categoria existiu –, com o vídeo de Chabala, realizado em Maio do ano anterior por Nuno Tudela para acompanhar a edição do single homónimo pela BMG. Em Junho é Adolfo Luxúria Canibal que recebe, na categoria “música”, o galardão regional bracarense “A Nossa Terra”, na sua primeira edição.

Ao vivo, destaca-se ainda a participação dos Mão Morta no 5º festival internacional de Paredes de Coura, que encerrariam, actuando após os norte-americanos Rollins Band. 1997 terminaria com a inclusão de Müller no Hotel Hessischer Hof nas listas de “melhores do ano” de várias publicações, sendo “2º melhor disco nacional do ano” para o semanário Expresso e “5º melhor disco nacional do ano” para o jornal Diário de Notícias.

Em Março de 1998 os Mão Morta, através de Adolfo Luxúria Canibal, são nomeados para um “Prémio de Música Blitz - 1997”, na categoria “melhor vocalista masculino nacional”. No mês seguinte são capa dos semanários Blitz e Raio X e editam Há Já Muito Tempo que Nesta Latrina o Ar se Tornou Irrespirável, um trabalho conceptual baseado nas teorias artístico-políticas da Internacional Situacionista, que tem entrada directa para o 12º lugar do Top Nacional de Vendas. Na tournée que se seguiu, os Mão Morta percorrem em Maio os eventos estudantis, com actuações na Queima das Fitas da Universidade de Coimbra, no Enterro da Gata da Universidade do Minho, em Braga, e na Semana Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, e actuariam ainda no festival Mergulho no Futuro, em Agosto, nos Armazéns Abel Pereira da Fonseca, realizado no quadro da Expo 98, a Exposição Mundial de Lisboa, juntamente com os americanos Blonde Redhead e Unwound, numa selecção de Arto Lindsey, e na Recepção ao Caloiro do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, em Outubro.

Ainda em 1998, durante o mês de Maio, os Mão Morta tiveram 24h de emissão radiofónica dedicada ao grupo, na RUM – Rádio Universitária do Minho, num evento intitulado 24 Horas du Mão Morta, são destaque na reportagem que a revista francesa L’Express faz sobre Lisboa e alguns dos seus vídeos, bem como uma entrevista a Adolfo Luxúria Canibal, são difundidos pela emissora de televisão brasileiraTV Globo”. Já em Julho é editado pela FNAC o livro Os Melhores Discos da Música Popular Portuguesa (1960-1997), que inclui os álbuns Mão Morta e Mutantes S.21, sendo este ainda incluído, em Outubro, na selecção “Grandes Álbuns” do semanário Raio X. Depois de em Setembro os Mão Morta terem sido capa do quinzenário cultural Jornal de Letras, Artes e Ideias, em Novembro o vídeo-clip Em Directo (Para a Televisão), mais uma vez realizado por Nuno Tudela, ganha o “Prémio Nacional de Vídeo”, na categoria “melhor produção”. O álbum que ilustrava, Há Já Muito Tempo que Nesta Latrina o Ar se Tornou Irrespirável, é considerado o “2º melhor disco nacional do ano” pelo Diário de Notícias e um dos “melhores do ano” pelo semanário Expresso.

Ainda em Dezembro de 1998 são reeditados em CD os três primeiros álbuns do grupo, Mão Morta, Corações Felpudos e O.D., Rainha do Rock & Crawl. No mês seguinte os Mão Morta enchem o Coliseu dos Recreios, a mítica sala de espectáculos de Lisboa, encerrando a apresentação de Há Já Muito Tempo que Nesta Latrina o Ar se Tornou Irrespirável com um concerto deslumbrante, onde recorrem à manipulação vídeo para construírem em palco a mistificação mediática de que tratava o disco.

1999-2001 - de Paris ao prémio Carreira

Para além da edição em Janeiro do disco de homenagem aos Xutos & PontapésXX Anos XX Bandas –, galardoado “Disco de Platina” em Março, e no qual os Mão Morta participam com uma versão do tema Mãe, o ano de 1999 foi consagrado a espectáculos, com o grupo a bater novamente o seu recorde de concertos anuais, destacando-se a participação na Semana do Enterro da Universidade de Aveiro, num regresso à academia depois de dela terem sido banidos em 1993, e em vários festivais de Verão, como o Carviçais Rock, em Torre de Moncorvo, o Cellos Rock, em Barcelos, o Rock Feira, em Santa Maria da Feira, e o Noites Ritual Rock, no Porto. Mas os espectáculos levam ainda o grupo para fora do país, com concertos em Paris (França), onde em Junho os Mão Morta são cabeças de cartaz na mostra "PluxshshshFeira – Musiques Nouvelles du Portugal", e em Olmo e Arezzo (Itália), onde em Julho assinam uma fantástica actuação no maior festival italiano, o Arezzo Wave Love Festival. O ano finaliza com um concerto memorável em Lisboa, no Lux, o novo espaço culto da capital, que se apresenta completamente esgotado para comemorar o 15º aniversário da banda.

A transição para o novo milénio traz também mudanças na formação da banda: José Pedro Moura faz o seu último concerto com os Mão Morta em Junho de 2000, em Braga, num espectáculo integrado nos festejos dos 2000 anos da cidade, porque, para espanto geral, quando os Mão Morta sobem ao palco do 8º festival internacional de Paredes de Coura, em Agosto, é Gonçalo Budda, do grupo bracarense Big Fat Mamma, que ocupa o seu lugar… José Pedro Moura é substituído por Marta Abreu, anteriormente no grupo feminino de Coimbra Voodoo Dolls. Marta Abreu participa desde logo nas sessões de gravação do disco que os Mão Morta aprontam, desde Abril, no estúdio da Escola de Jazz do Porto, e que entretanto passam a decorrer no AreaMaster, em Vigo (Espanha). A sua estreia ao vivo com a banda dá-se só em Novembro, na sua cidade natal, na Festa das Latas da Universidade de Coimbra, mas ficaria apenas mais um concerto com o grupo – na Recepção aos Caloiros da Universidade da Beira Interior, na Covilhã – porque pouco depois vaga o lugar para Joana Longobardi, que já anteriormente a substituíra nas Voodoo Dolls, e que se estreia com os Mão Morta no concerto de Ano Novo, em Braga.

Em 2000 teve também lugar a edição do disco 20 Anos Depois Ar de Rock, que assinala os 20 anos da edição do álbum Ar de Rock, de Rui Veloso, apontado como o início do pop/rock em Portugal enquanto fenómeno de massas, para o qual os Mão Morta contribuem com uma versão do tema Domingo Fui Às Antas, por especial insistência do próprio Rui Veloso. Ainda em 2000, a revista mensal de técnicas de estúdio e de instrumentos ProMúsica dedica aos Mão Morta a capa da sua edição de Março e o semanário Blitz, que comemora a especificidade do ano editando semanalmente uma enciclopédia que analisa a música do século que termina – intitulada A Música no Século XX –, abre em Outubro um capítulo para a banda.

Em Março de 2001 os Mão Morta editam o novo disco Primavera de Destroços, com a sua apresentação a ser feita no Teatro Gil Vicente, em Coimbra, que se encontra completamente esgotado. A banda aparece na 1ª Página do generalista Diário de Notícias e é capa do seu suplemento cultural DNMais, tal como do Sete, suplemento cultural do matutino Primeiro de Janeiro, e da revista VoxPop. Em Abril, o disco entra para o 27º lugar do Top Nacional de Vendas e para o 7º lugar do Top Made In Portugal (supostamente um registo de vendas de editoras independentes, a contabilizar apenas edições lusófonas, mas que rapidamente se torna no veículo de promoção para os editores da música rural mais parola de Portugal), onde se mantém algumas semanas. Também a cadeia de lojas FNAC dedica uma semana aos Mão Morta, com conferências sobre diversas facetas da banda, em que intervêm alguns dos mais conceituados críticos musicais, como João Lisboa ou Nuno Galopim, escritores e poetas, como José Luís Peixoto ou Paulo da Costa Domingos, editores de livros, como Luís Oliveira da Antígona, ou realizadores de cinema, como Nuno Tudela ou Tiago Guedes de Carvalho. Este último é o autor do vídeo-clip promocional do disco, sobre o tema Cão da Morte, que em Dezembro vence o Prémio Nacional de Vídeo na categoria “melhor realização”, para o qual é ainda nomeado nas categorias “melhor montagem” e “melhor fotografia”, e em 2002 o Prémio do Público da competição Vídeo-clips do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto.

A tournée que se segue à edição do disco proporciona aos Mão Morta novo recorde de concertos anuais, sendo cabeças de cartaz na totalidade dos mais importantes eventos estudantis, como a Semana do Enterro da Universidade de Aveiro, a Queima das Fitas daUniversidade de Coimbra, a Semana Académica da Universidade de Lisboa, o Enterro da Gata da Universidade do Minho, em Braga, a Semana Académica da Universidade do Algarve, em Faro, e depois, em Outubro, a Festa das Latas da Universidade de Coimbra e a Recepção ao Caloiro da Universidade de Évora, integrando o alinhamento da maioria dos festivais portugueses, como o Bejalternativa, em Beja, o Festival do Tejo, no Cartaxo, o Carviçais Rock, em Torre de Moncorvo, o Ilha do Ermal, em Vieira do Minho, o Noites Ritual Rock, no Porto, ou o MusicFest, em Lisboa, e fazendo ainda duas actuações em Madrid (Espanha).

O disco é, mais uma vez, incluído nos balanços dos “melhores do ano” de várias publicações, como os diários Público e Diário de Notícias ou o semanário Expresso, sendo mesmo considerado o “melhor do ano” para a RUM – Rádio Universitária do Minho. No entanto, 2001 fica assinalado pela atribuição aos Mão Morta do mais importante galardão musical português, o “Prémio de Música Blitz – Carreira”, numa cerimónia realizada em Outubro no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, que contaria ainda com uma actuação da banda reforçada com o grupo de percussão de música popular portuguesa Tocá Rufar. Para receber o prémio, os Mão Morta apresentam-se com todos os seus actuais elementos e ainda com os históricos Joaquim Pinto, Carlos Fortes, José Pedro Moura e Marta Abreu – a única ausência é de Zé dos Eclipses, porque se encontra em Santiago do Chile –, tendo Adolfo Luxúria Canibal, no discurso de agradecimento, partilhado também o prémio com Vítor Silva, antigo manager do grupo, presente na assistência.

2002-2004 - da Carícias Malícias Tour ao Nus

Os Mão Morta iniciam 2002 com a reedição de Primavera de Destroços, acrescido de um disco bónus com o concerto de apresentação do álbum em Lisboa, na Aula Magna, em Maio do ano anterior.

Mas o ano fica marcado, sobretudo, pela “Carícias Malícias Tour” e pela mudança radical que provocou no hábito de agenciamento de concertos em Portugal: inspirados nos espectáculos madrilenos de Maio anterior, dados em pequenos clubes e com o público muito próximo do palco, proporcionando uma intimidade difícil de conseguir nos grandes eventos em que normalmente tocam, os Mão Morta decidem, juntamente com A Chave do Som – a agência com quem trabalham desde 2001 –, fazer um levantamento dos bares, discotecas e pequenos espaços alternativos com condições mínimas para acolher concertos e, em função desse levantamento, organizar uma tournée susceptível de se aguentar financeiramente só com as receitas geradas pelas entradas de público. Foi a génese da “Carícias Malícias Tour”, que arrancou em Outubro levando os Mão Morta para uma sucessão de inesquecíveis e furiosas prestações por todo o país, com salas sucessivamente esgotadas e a gerar um movimento de entusiasmo como há muito se não via, e que serviria de modelo para outros grupos se lançarem em iniciativas semelhantes e de incentivo para muitos bares passarem a programar espectáculos ao vivo. E isto sem renunciar às tradicionais apresentações nos grandes e médios eventos, como em Julho no festival do Litoral Centro, em Leiria, ou em Agosto no Jales Rock, em Vila Pouca de Aguiar.

2002 é também um ano em que os Mão Morta ganham vários prémios: em Outubro, naquela que se revelaria a sua última edição, vencem dois “Prémios de Música Blitz - 2001”, na categoria “melhor álbum nacional”, com Primavera de Destroços, e na categoria “grupo nacional do ano”; em Dezembro é o jornal Raio X que organiza também uma cerimónia de entrega de prémios, a que chama “Prémios Raio X – Os Melhores do Ano 2002”, saindo os Mão Morta vencedores na categoria “melhor banda pop/rock/punk” depois de também terem sido nomeados nas categorias “banda nacional” e “melhor actuação”, com o concerto no bar Deslize em Braga que deu início à “Carícias Malícias Tour”.

Ainda em Outubro o semanário Blitz, a propósito da comemoração do seu 18º aniversário, publica uma selecção dos melhores discos portugueses editados durante a existência do jornal, intitulada “18 anos de música portuguesa”, na qual inclui os álbuns O.D., Rainha do Rock & Crawl, Mão Morta, Müller no Hotel Hessischer Hof, Mutantes S.21 e Corações Felpudos.

Com a edição de Primavera de Destroços os Mão Morta dão por cumprido o contrato de dois discos assinado com a NorteSul e Adolfo Luxúria Canibal, Miguel Pedro e António Rafael decidem criar a sua própria editora discográfica. Embora o propósito não fosse editar Mão Morta, antes a intervenção activa no mercado editorial português pela disponibilização de nomes que normalmente não são assinados pelas grandes editoras, o primeiro artefacto da Cobra, editado em Maio de 2003, é Carícias Malícias, um registo ao vivo da tournée por pequenos espaços que os Mão Morta tinham montado, com uma profusa selecção de fotografias tiradas pelos fãs a testemunhar o entusiasmo que a rodeou. A vontade de partilha com os fãs faria ainda com que o vídeo de promoção ao disco fosse composto unicamente com imagens captadas por eles nos mais diversos concertos da tour.

Em 2003, os Mão Morta regressam aos grandes concertos, fazendo a ronda das festas estudantis, como o Enterro da Gata da Universidade do Minho, em Braga, a Semana Académica da Universidade do Algarve, em Faro, ou a Semana Académica da Universidade Nova de Lisboa, e dos festivais, como o Bejalternativa, em Beja, ou a Festa da Alegria, em Braga, mas desde Agosto dedicam-se essencialmente à gravação de um novo disco, no estúdio que construíram na Casa do Rolão, em Braga: o mote é o poema Uivo, de Allen Ginsberg.

Nus é editado pela Cobra em Abril de 2004, depois da sua edição ter sido retirada à editora Zona Música, por desentendimentos quanto ao cumprimento do acordado, e de ter sido recusado pelas editoras Música Alternativa, EMI e Universal com o argumento de que não seria suficientemente comercial. O disco, depois de uma distribuição inicial pelos quiosques com o semanário Blitz, rapidamente esgotada, é distribuído em Maio pelas lojas de discos e revela-se ironicamente como o mais bem sucedido registo do grupo, tendo em poucas semanas atingido o número de vendas equivalente a “disco de ouro” (certificação que lhe não é oficialmente atribuída porque a editora Cobra não faz parte da Associação Fonográfica Portuguesa – pelo mesmo motivo, as suas vendas não são contabilizadas no Top Oficial de Vendas).

O álbum é uma viagem pela memória de uma geração, a “sua geração lisérgica bracarense” como os Mão Morta a identificam, com as suas utopias de liberdade e revolução e a sua descida aos infernos da droga, da prisão e da morte, e começa com o tema Gumes, um épico de 22 minutos que funciona como distribuidor dos restantes temas. A sua apresentação é feita em Abril num esgotado Auditório do Palácio de Exposições, em Braga, com a presença dos convidados Marta Ren, voz dos Sloppy Joe, e Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero(apresentação que seria repetida no mês seguinte no Porto, no Teatro Rivoli, num evento aí organizado pela Casa da Música por não dispor ainda de instalações próprias finalizadas), com um espectáculo em que o grupo surge esbatido atrás de uns biombos brancos, como a realçar o lado esfumado do sonho e da lembrança, sobre os quais são projectadas cores vivas, numa espécie de viagem psicadélica e irreal.

Mas ainda antes de Nus é editado em Abril o livro Narradores da Decadência, a primeira biografia dos Mão Morta, onde o jornalista Vítor Junqueira passa em revista, ano a ano, não só toda a carreira da banda mas também a movida bracarense dos primeiros anos da década de 80 de cujo caldeirão cultural o grupo emanou. Braga que teria em Julho o terceiro tomo da série À Sombra de Deus, mais uma vez coligido pela mão de Miguel Pedro e editado pela autarquia, onde os Mão Morta incluem o tema Sobe, Querida, Desce.

Na tournée que se seguiu ao disco, os Mão Morta passam pelas incontornáveis festas estudantis, como a Queima das Fitas da Universidade do Porto, a Semana do Enterro da Universidade de Aveiro ou a Semana Académica do Instituto Politécnico de Bragança, e pelos festivais de Verão, como o Bejalternativa, em Beja, o Festival do Tejo, no Cartaxo, o Festival de Carviçais, em Torre de Moncorvo, o 12º festival internacional de Paredes de Coura ou o Noites Ritual, no Porto, para quase no final do ano, em Outubro, iniciarem uma nova ronda por pequenos espaços, à semelhança do que haviam feito com a “Carícias Malícias Tour”, a que desta vez chamam “Sessões de Outono”. A estas “Sessões de Outono” seguem-se as “Sessões de Inverno”, iniciadas em Janeiro de 2005, que leva os espectáculos de apresentação de Nus a diversos teatros e auditórios através de Portugal. Em Dezembro, o disco tinha sido incluído nos “melhores do ano” por diversas publicações, como o semanário Expresso, e eleito “melhor álbum nacional do ano” pelo jornal Blitz e pelo matutino O Primeiro de Janeiro. Ainda em Dezembro, e encerrando as comemorações do seu vigésimo aniversário, o semanário Blitz publica a sua selecção “os 50 melhores discos portugueses de sempre”, na qual inclui Mutantes S.21 e Primavera de Destroços.

2005-2007 - das Sessões de Inverno ao disco Tributo

No primeiro trimestre de 2005 os Mão Morta dedicam-se então às “Sessões de Inverno”, levando o disco Nus, e uma exposição fotográfica organizada e montada por fãs, a sítios como o Teatro Gil Vicente, em Coimbra, o Fórum Lisboa, o Teatro de Vila Real, a Casa das Artes, nosArcos de Valdevez, o Cine-Teatro Paraíso, em Tomar, o Cine-Teatro S. João, em Palmela, ou o Castelo de Sines, que encerram com um inolvidável concerto esgotado na Aula Magna, em Lisboa. Os dois concertos lisboetas são gravados e filmados para posterior edição em DVD, que ainda não aconteceu.

Terminadas as “Sessões de Inverno”, os Mão Morta dedicam-se à preparação de um espectáculo baseado no livro Os Cantos de Maldoror, escrito por Isidore Ducasse sob o pseudónimo de O Conde de Lautréamont. Não impede que em Abril gravem 4 temas para o programa de rádio 3 Pistas, de Henrique Amaro (dois dos quais editados em disco no mês seguinte, numa colectânea com os melhores temas apresentados), difundido pela emissora Antena 3, nem que em Julho encerrem o 1º Festival da Serra da Estrela, ou que no final do ano organizem mais uma mini tournée por pequenos espaços, agora na Galiza, a que chamam “Xira Galega”, e que passa por A Corunha, Santiago de Compostela e Vigo. Também os seus elementos, para além de se dedicarem à editora aumentando o número de edições anuais da Cobra, se entregam neste período a outras actividades: Adolfo Luxúria Canibal intensifica a sua envolvência nos Mécanosphère, um grupo de electrónica industrial de origem francesa com quem colabora desde 2000 (com 4 discos editados), e cria Estilhaços com António Rafael, um espectáculo de spoken word que apresenta por todo o país e ainda em Budapeste, na Hungria (e posteriormente edita em disco em 2006); António Rafael, para além de Estilhaços, compõe para várias peças de teatro; Miguel Pedro funda novos grupos, como Jazz Iguanas com António Rafael, um trio de electrónica improvisada (com disco editado em 2006), ou Mundo Cão, um quinteto rock clássico, com Vasco Vaz e ainda a colaboração nas letras de Adolfo Luxúria Canibal (com disco editado em 2007).

Entretanto, em Junho de 2005 é editado o livro Duzentos e Trinta e Um Discos Para Um Percurso Pela Música Urbana em Portugal que inclui os álbuns Mão Morta, Mutantes S.21 e Müller no Hotel Hessischer Hof, atingindo os Mão Morta o limite do máximo de três discos por artista que os autores fixaram. Também Mutantes S.21 é incluído na lista “25 anos 25 discos - os melhores discos pop portugueses do último quarto de século” que o Jornal de Letras, Artes e Ideias publica em Setembro desse ano, sendo o grupo o 4º artista mais votado, com os álbuns Mão Morta, O.D., Rainha do Rock & Crawl, Mão Morta Revisitada, Müller no Hotel Hessischer Hof, Há Já Muito Tempo que Nesta Latrina o Ar se Tornou Irrespirável e Nus referidos como tendo ficado no limite de serem incluídos na selecção.

Em 2006, sempre embrenhados na transposição de Os Cantos de Maldoror para palco, os Mão Morta têm apenas duas aparições públicas: na Queima das Fitas da Universidade de Coimbra e no festival Antarte, em Paredes. Depois de uma incursão a Paris, onde em Março de 2007 actuam como cabeças de cartaz no festival Tarola Rock, os Mão Morta estreiam finalmente Maldoror em Maio de 2007. A estreia é em Braga, no novo Theatro Circo, reconstruído depois de sete anos de obras e com nova grafia no nome, que se encontra completamente esgotado para os dois dias de apresentações, situação que se repetiria na reposição do espectáculo no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre, únicas datas em que nesse ano pôde ser visto. O espectáculo é um sucesso, com críticas entusiásticas (“Os Mão Morta não fizeram um álbum novo. Criaram um mundo a partir de uma obra de outra pessoa. Um mundo que tem tanto de Mão Morta como qualquer outro álbum. Um mundo que mistura o feio, o nojento e a maldade com a poesia e a inocência de uma menina vestida de branco com «duas tranças pretas que caiem sobre os ombros de mármore». Os Mão Morta levaram-nos para dentro desse mundo infernal e nós não nos mexemos. Ficámos parados a assistir, de tão impressionante que era. Maldoror não foi mau. Foi muito bom.” - Ana Baptista in Disco Digital. “Há tempo para descargas eléctricas brutais, para a electrónica tímida e minimalista a marcar o ritmo nos (poucos) momentos de acalmia, há trechos repetitivos que sublinham a violência das descrições que Adolfo Luxúria Canibal nos oferece enquanto nos olha com um esgar de loucura. Sobre ele há ainda a dizer que é um actor excepcional, seguríssimo de si mesmo na forma como se movimenta em palco ou como se filma durante o espectáculo, fazendo-nos muitas vezes duvidar se estamos perante um homem ou uma bizarra criatura da obscuridade.” - in Ponto Final Parágrafo.), deixando toda a gente ansiosa por novas apresentações, que só aconteceriam no ano seguinte. Para Maldoror os Mão Morta contaram com a encenação de António Durães, a cenografia de Pedro Tudela, os figurinos de Cláudia Ribeiro, as imagens vídeo de Nuno Tudela e o desenho de luz de Manuel Antunes.

No final da actuação da banda no Festival de Paredes de Coura de 2007, no qual foram a principal banda do dia, Adolfo Luxúria Canibal anunciou o final da banda, após 23 anos de carreira, num "adeus ao rock 'n roll". Este fim de carreira veio-se a revelar uma brincadeira de Adolfo Luxúria Canibal mas apesar disso, o concerto no Festival Paredes de Coura ficou como um dos mais memoráveis do Festival, que inclusivamente teve direito a "milagres":

-"Se fosse Papa diria que estais com uma auréola muito estranha. Milagrosa. Apesar da chuva e da lama, conseguis levantar poeira. E isso para um não crente como eu, é milagre! Mas não façam disto um milagre canonizado, ou a cada 14 de Agosto teremos uma nova Fátima, com peregrinos, garrafões, Tonys Carreiras e quejandos! Levantem lama, que foi com lama que se criou o mundo!" - Adolfo Luxuria Canibal enquanto se dirigia ao público, durante o concerto dos Mão Morta em Paredes de Coura.

Ainda nesse ano, em Outubro, a editora independente Raging Planet edita um disco de homenagem a Mão Morta - Tributo a Mão Morta - E Se Depois..., com a participação de alguns dos principais nomes da nova geração de músicos portugueses da área alternativa.

Ver Também

2008-... - de Maldoror à actualidade

No primeiro semestre de 2008 os Mão Morta levaram o espectáculo Maldoror em digressão por todo o país, com término em Maio, novamente no Theatro Circo de Braga onde havia estreado um ano antes. Entretanto, era editado em disco duplo, com o título Maldoror, a gravação do espectáculo de estreia e, já no final do ano, o DVD com a filmagem desse mesmo espectáculo. Antes, em Julho, faziam um filme concerto integrado no 16º Curtas de Vila do Conde - Festival Internacional de Cinema, em que musicaram, e tocaram ao vivo acompanhando a projecção, os filmes A Study In Choreography For Camera, At Land, Meshes Of The Afternoon e Ritual In Transfigured Time da realizadora norte-americana Maya Deren. Pelo meio, em Agosto, os Mão Morta tocam pela primeira vez nos Açores, na cidade da Horta (Faial) e participam, numa parceria com José Mário Branco, para o movimento de solidariedade com a doença mental, compondo o tema Loucura, editado em Novembro numa colectânea com outras parcerias de artistas portugueses. Em Novembro iniciam uma digressão por auditórios, denominada “Ventos Animais”, que se prolongaria pelo Inverno do ano seguinte e onde revisitam toda a sua discografia, nomeadamente temas há muito não tocados ao vivo.

Membros

Membros actuais

Integrantes de Mão Morta ao longo do tempo

Ex-membros

  • Marta Abreu - baixista - 2000
  • José Pedro Moura - baixista e compositor - 1990-2000
  • Carlos Fortes - guitarrista e compositor - 1986-1994
  • Zé dos Eclipses - guitarrista, letrista e compositor - 1985-1991
  • Joaquim Pinto - fundador, baixista, teclista e compositor - 1984-1990
  • Paulo Trindade - baterista convidado - 1987Discografia de Mão Morta

Prémios

  • III Concurso de Música Moderna do RRV (1986) - Prémio de Originalidade
  • Prémios RUT 87 - Melhor Banda Nacional Sem Registo Em Vinil
  • Se7es de Ouro 93 - nomeados para Melhor Disco (Mutantes S.21)
  • Prémios de Música Blitz 94 - nomeados para Grupo Nacional do Ano e Melhor Vocalista Masculino Nacional
  • Medalha de Mérito - Grau Prata da Cidade de Braga (1995)
  • Prémios de Música Blitz 95 - Melhor Vídeo-Clip (Chabala - Nuno Tudela)
  • Prémios de Música Blitz 96 - nomeados para Melhor Vocalista Masculino Nacional
  • Prémio Nacional de Vídeo 98 - Melhor Produção (Em Directo (Para a Teelvisão) - Nuno Tudela - Valentim de Carvalho)
  • Prémios de Música Blitz 2000 - Prémio Carreira
  • Prémios de Música Blitz 2001 - Melhor Álbum Nacional (Primavera de Destroços) e Grupo Nacional do Ano
  • Prémio Nacional de Vídeo 2001 - Melhor Realização (Cão da Morte - Tiago Guedes); nomeados para Melhor Montagem e Melhor Fotografia
  • Fantasporto 2002 - Prémio do Público para Melhor Vídeo-Clip (Cão da Morte - Tiago Guedes)
  • Prémios Raio X 2002 - Melhor Banda Pop/Rock/Punk; nomeados para Banda Nacional e Melhor Actuação

Bibliografia

Interna

  • Estilhaços - Adolfo Luxúria Canibal (Quasi Edições, 2003)

Específica

  • Eu e os Mão Morta - João Almas (Edição de Autor, 2001)
  • Mão Morta, Narradores da Decadência - Vítor Junqueira (Quasi Edições, 2004)
  • As Letras Como Poesia, O Melhor da Pop/Rock em Portugal - Vitorino Almeida Ventura (Objecto Cardíaco, 2006 / Edições Afrontamento,2009)

Genérica

  • Os Melhores Discos da Música Popular Portuguesa (1960 - 1997) - Luís Maio, Fernando Magalhães, Jorge Dias e outros (FNAC, 1998)
  • Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa - Luís Pinheiro de Almeida, João Pinheiro de Almeida e outros (Círculo de Leitores, 1998)
  • Salão Lisboa 2001, Ilustração e Banda Desenhada - João Paulo Cotrim, Marcos Farrajota e outros (Bedeteca de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa, 2001)
  • Les Cahiers de L’Export : Espagne et Portugal - Patrice Hourbette, Audrey Ludwig e outros (Bureau Export de la Musique Française, 2001)
  • Panorama da Cultura Portuguesa no Século XX (3 vol.) - Fernando Pernes e outros (Edições Afrontamento / Fundação de Serralves, 2002)
  • Duzentos e Trinta e Um Discos Para Um Percurso pela Música Urbana em Portugal - Henrique Amaro, Jorge Mourinha e Pedro Félix (FNAC, 2005)
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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