Saturday, July 18, 2009

Pedra Filosofal / Philosopher Stone

Poema de António Gedeão

Música de Manuel Freire


Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho

é uma constante da vida

tão concreta e definida

como outra coisa qualquer,

como esta pedra cinzenta

em que me sento e descanso,

como este ribeiro manso

em serenos sobressaltos,

como estes pinheiros altos

que em verde e oiro se agitam,

como estas aves que gritam

em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho

é vinho, é espuma, é fermento,

bichinho álacre e sedento,

de focinho pontiagudo,

que fossa através de tudo

num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho

é tela, é cor, é pincel,

base, fuste, capitel,

arco em ogiva, vitral,

pináculo de catedral,

contraponto, sinfonia,

máscara grega, magia,

que é retorta de alquimista,

mapa do mundo distante,

rosa-dos-ventos, Infante,

caravela quinhentista,

que é cabo da Boa Esperança,

ouro, canela, marfim,

florete de espadachim,

bastidor, passo de dança,

Colombina e Arlequim,

passarola voadora,

pára-raios, locomotiva,

barco de proa festiva,

alto-forno, geradora,

cisão do átomo, radar,

ultra-som, televisão,

desembarque em foguetão

na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida,

que sempre que um homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre as mãos de uma criança.

In Movimento Perpétuo, 1956


António Gedeão

Nascimento:1906 Lisboa
Morte:1997
País:Portugal

Poeta, professor e historiador da ciência portuguesa. António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, concluiu, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de docente. Teve um papel importante na divulgação de temas científicos, colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da história das ciências e das instituições, como A Actividade Pedagógica da Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX. Publicou ainda outros estudos, como História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa (1959), O Sentido Científico em Bocage (1965) e Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII (1979).
Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo. A esta viriam juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990). Na sua poesia, reunida também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são heterogéneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia. Alguns dos seus textos poéticos foram aproveitados para músicas de intervenção.
Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973). Na data do seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago de Espada.


Manuel Augusto Contro Pinho Freire (n. Vagos, 25 de Abril de 1942), cantor português.

Frequentou o ensino liceal em Ovar e Aveiro, chegando a estudar Engenharia, em Coimbra e no Porto, sem se licenciar. Entra no Teatro Experimental do Porto, em 1967, aceitando um convite de Fernando Gusmão. Entretanto estreava-se na música, com um EP que continhaDedicatória, Eles, Livre e Pedro Soldado, em 1968. A sua obra não escapa à Censura da época, vindo a ser probidos os temas Lutaremos meu amor, Trova, O sangue não dá flor e Trova do emigrante. Aparece na televisão, em Zip-Zip, em 1969, para interpretar Pedra Filosofal, poema de António Gedeão, o que lhe vale o Prémio da Imprensa desse ano. No álbum Manuel Freire musica poemas de António Gedeão, José Gomes Ferreira, Fernando Assis Pacheco, Eduardo Olímpio, Sidónio Muralha e José Saramago. É distinguido com o Prémio Pozal Domingues. O EP Dulcineia é lançado em 1971. Em 1972 colabora na banda sonora da longa-metragem de Alfredo Tropa, Pedro Só. Edita, em1973, o LP De Viva Voz, gravado ao vivo com José Afonso e José Jorge Letria. Recebe a colaboração de Luís Cília em Devolta (1978). Em1986 o disco lançado pela CGTP-IN, 100 Anos de Maio, inclui a sua música Cais das Tormentas. Em 1995 actuou na Festa do Avante numa homenagem a Adriano Correia de Oliveira onde foi acompanhado pela Brigada Victor Jara. Lágrima de Preta é incluído na compilação Sons de Todas as Cores, de 1997. Colaborou ainda no disco Florestas Em Movimento, com Carlos Alberto Moniz, patrocinado pela Direcção Geral das Florestas, e em Pelo sonho é que fomos. Em 1999 lança o disco As Canções Possíveis onde canta a poesia de José Saramago, de Os Poemas Possíveis, edição da Caminho. Em 2006 colaborou com José Jorge Letria e Vitorino num CD para crianças acerca da Revolução dos Cravos, intitulado Abril, Abrilzinho.

Torna-se em presidente da Sociedade Portuguesa de Autores no seguimento da contestação a Luiz Francisco Rebello. Abandona o cargo em2007, devido a problemas de saúde.

Discografia

CDs e LPs

  • Manuel Freire - lp editado em 1970, ref. DIAP 16030
  • Devolta (lp, Sasseti, 1978) ref. DIAP 16014
  • Dedicatória - Lp editado em colaboração com Fernando Alvim e Pedro Caldeira Cabral, ref. tecla tes 40013
  • Pedra Filosofal - Cd editado em 1993 pela Strauss, réplica quase exacta do lp de 1970. tem uma faixa extra que é uma nova versão da "pedra filosofal"
  • As canções possíveis - Manuel Freire canta José Saramago. (CD, Editorial caminho, 1999)

singles e eps

  • dedicatória / livre / eles / pedro o soldado (Ep, Tecla, 1968) ref. tagus tg 112
  • eles / trova do emigrante ref. tecla TE 20021
  • lutaremos meu amor/trova emigrante/trova/sangue não dá flor ref. tagus tg 121
  • trova / lutaremos meu amor ref. tecla te 20007
  • pedra filosofal/menina olhos tristes (Single, Zip-Zip, 1970) ref. zip 30.001/S
  • Dulcineia/Poema da Malta das Naus/Canção/Fala do Velho do Restelo ao Astronauta (EP, Zip-Zip, 1971)ref. zip-zip (editora) 10022/E
  • abaixo d.quixote/pequenos deuses caseiros/menina bexigosa/ouvindo bethoven (Ep, 1973) ref. sassetti sst-3.003
  • pedro só / pelo caminho (do filme de alfredo tropa "pedro só") ref. zip 30018/S
  • Que Faço Aqui/Um Dia (os emigrantes) (Single, Sasseti, 1977) ref. diapasão diap 14011/G

Outros

  • 100 Anos de Maio (CGTP, 1986) - Cais das Tormentas
  • Sons de Todas As Cores (Ajal, 1997) - Lágrima de Preta
  • Florestas Em Movimento (Dito e Feito, 1998)
  • Pelo Sonho É Que Fomos (Profisom, 1998)
  • Abril, Abrilzinho (CD, PDF/Público, 2006)

A Pedra Filosofal (Medicina Universal, Lápis Filosoforum) era o principal objetivo dosalquimistas. Segundo a lenda, era um objeto que poderia aproximar o homem de Deus. Com ela o alquimista poderia transmutar qualquer metal inferior em ouro, como também obter o Elixir da Longa Vida que permitiria prolongar a vida indefinidamente. O trabalho relacionado com a pedra filosofal era chamado pelos alquimistas de "A Grande Obra" (ou "Opus Magna", em latim). A lenda da pedra filosofal não existe na alquimia chinesa.

Aparentemente, o trabalho de laboratório dos alquimistas na busca pela pedra filosofal era, na verdade, uma metáfora para um trabalho espiritual. Neste sentido, a transmutação dos metais inferiores em ouro seria a transformação de si próprio de um estado inferior para um estado espiritual superior.

Torna-se mais clara a razão para ocultar toda e qualquer conotação espiritual deste trabalho, na forma de manipulação de "metais", se nos lembrarmos que na Idade Média qualquer um poderia ser acusado de heresia, satanismo e outras coisas, acabando por ser queimado na fogueira.

A pedra filosofal poderia não só efetuar a transmutação, mas também elaborar o Elixir da Longa Vida, uma panacéia universal, que prolongaria a vida indefinidamente. Isto demonstra as preocupações dos alquimistas com a saúde e a medicina. Vários alquimistas são considerados precursores da moderna medicina, e dentre eles destaca-se Paracelso.

A busca por esta pedra filosofal é, em certo sentido, semelhante a busca pelo Santo Graal das lendas arturianas. Em seu romance Parsifal, Wolfram von Eschenbach associa o Santo Graal não a um cálice, mas a uma pedra que teria sido enviada dos céus por seres celestiais e teria poderes inimagináveis.

Ao longo da história a criação da pedra filosofal foi atribuída a várias personalidades, como Paracelsus e Fulcanelli, porém é inegável que a lenda mais famosa refere-se a Nicolas Flamel, um alquimista real que viveu no século XIV. Segundo o mito, Flamel encontrou um antigo livro que continha textos intercalados com desenhos enigmáticos, porém, mesmo após muito estudá-lo, Flamel não conseguiria entender do que se tratava. Segundo a lenda, ele teria encontrado um sábio judeu em uma estrada em Santiago na Espanha, que fez a tradução do livro, que se tratava de cabala e alquimia, possuindo a fórmula para a pedra filosofal. Por meio deste livro, conseguiu fabricar a pedra: segundo a lenda, esta seria a razão da riqueza de Flamel, que inclusive fez várias obras de caridade, adornando-as com símbolos alquímicos. Ao falecer, a casa de Flamel foi saqueada por caçadores de tesouros ávidos por encontrar a pedra filosofal. A lenda conta que, na realidade, ambos, Flamel e sua esposa, não morreram, e que em suas tumbas foram encontradas apenas suas roupas no lugar de seus corpos.

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