Poema de António Gedeão
Música de Manuel Freire
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
In Movimento Perpétuo, 1956

António Gedeão Nascimento: 1906 Lisboa Morte: 1997 País: Portugal

Frequentou o ensino liceal em Ovar e Aveiro, chegando a estudar Engenharia, em Coimbra e no Porto, sem se licenciar. Entra no Teatro Experimental do Porto, em 1967, aceitando um convite de Fernando Gusmão. Entretanto estreava-se na música, com um EP que continhaDedicatória, Eles, Livre e Pedro Soldado, em 1968. A sua obra não escapa à Censura da época, vindo a ser probidos os temas Lutaremos meu amor, Trova, O sangue não dá flor e Trova do emigrante. Aparece na televisão, em Zip-Zip, em 1969, para interpretar Pedra Filosofal, poema de António Gedeão, o que lhe vale o Prémio da Imprensa desse ano. No álbum Manuel Freire musica poemas de António Gedeão, José Gomes Ferreira, Fernando Assis Pacheco, Eduardo Olímpio, Sidónio Muralha e José Saramago. É distinguido com o Prémio Pozal Domingues. O EP Dulcineia é lançado em 1971. Em 1972 colabora na banda sonora da longa-metragem de Alfredo Tropa, Pedro Só. Edita, em1973, o LP De Viva Voz, gravado ao vivo com José Afonso e José Jorge Letria. Recebe a colaboração de Luís Cília em Devolta (1978). Em1986 o disco lançado pela CGTP-IN, 100 Anos de Maio, inclui a sua música Cais das Tormentas. Em 1995 actuou na Festa do Avante numa homenagem a Adriano Correia de Oliveira onde foi acompanhado pela Brigada Victor Jara. Lágrima de Preta é incluído na compilação Sons de Todas as Cores, de 1997. Colaborou ainda no disco Florestas Em Movimento, com Carlos Alberto Moniz, patrocinado pela Direcção Geral das Florestas, e em Pelo sonho é que fomos. Em 1999 lança o disco As Canções Possíveis onde canta a poesia de José Saramago, de Os Poemas Possíveis, edição da Caminho. Em 2006 colaborou com José Jorge Letria e Vitorino num CD para crianças acerca da Revolução dos Cravos, intitulado Abril, Abrilzinho.
Torna-se em presidente da Sociedade Portuguesa de Autores no seguimento da contestação a Luiz Francisco Rebello. Abandona o cargo em2007, devido a problemas de saúde.
Discografia
CDs e LPs
- Manuel Freire - lp editado em 1970, ref. DIAP 16030
- Devolta (lp, Sasseti, 1978) ref. DIAP 16014
- Dedicatória - Lp editado em colaboração com Fernando Alvim e Pedro Caldeira Cabral, ref. tecla tes 40013
- Pedra Filosofal - Cd editado em 1993 pela Strauss, réplica quase exacta do lp de 1970. tem uma faixa extra que é uma nova versão da "pedra filosofal"
- As canções possíveis - Manuel Freire canta José Saramago. (CD, Editorial caminho, 1999)
singles e eps
- dedicatória / livre / eles / pedro o soldado (Ep, Tecla, 1968) ref. tagus tg 112
- eles / trova do emigrante ref. tecla TE 20021
- lutaremos meu amor/trova emigrante/trova/sangue não dá flor ref. tagus tg 121
- trova / lutaremos meu amor ref. tecla te 20007
- pedra filosofal/menina olhos tristes (Single, Zip-Zip, 1970) ref. zip 30.001/S
- Dulcineia/Poema da Malta das Naus/Canção/Fala do Velho do Restelo ao Astronauta (EP, Zip-Zip, 1971)ref. zip-zip (editora) 10022/E
- abaixo d.quixote/pequenos deuses caseiros/menina bexigosa/ouvindo bethoven (Ep, 1973) ref. sassetti sst-3.003
- pedro só / pelo caminho (do filme de alfredo tropa "pedro só") ref. zip 30018/S
- Que Faço Aqui/Um Dia (os emigrantes) (Single, Sasseti, 1977) ref. diapasão diap 14011/G
Outros
- 100 Anos de Maio (CGTP, 1986) - Cais das Tormentas
- Sons de Todas As Cores (Ajal, 1997) - Lágrima de Preta
- Florestas Em Movimento (Dito e Feito, 1998)
- Pelo Sonho É Que Fomos (Profisom, 1998)
- Abril, Abrilzinho (CD, PDF/Público, 2006)
A Pedra Filosofal (Medicina Universal, Lápis Filosoforum) era o principal objetivo dosalquimistas. Segundo a lenda, era um objeto que poderia aproximar o homem de Deus. Com ela o alquimista poderia transmutar qualquer metal inferior em ouro, como também obter o Elixir da Longa Vida que permitiria prolongar a vida indefinidamente. O trabalho relacionado com a pedra filosofal era chamado pelos alquimistas de "A Grande Obra" (ou "Opus Magna", em latim). A lenda da pedra filosofal não existe na alquimia chinesa.
Aparentemente, o trabalho de laboratório dos alquimistas na busca pela pedra filosofal era, na verdade, uma metáfora para um trabalho espiritual. Neste sentido, a transmutação dos metais inferiores em ouro seria a transformação de si próprio de um estado inferior para um estado espiritual superior.
Torna-se mais clara a razão para ocultar toda e qualquer conotação espiritual deste trabalho, na forma de manipulação de "metais", se nos lembrarmos que na Idade Média qualquer um poderia ser acusado de heresia, satanismo e outras coisas, acabando por ser queimado na fogueira.
A pedra filosofal poderia não só efetuar a transmutação, mas também elaborar o Elixir da Longa Vida, uma panacéia universal, que prolongaria a vida indefinidamente. Isto demonstra as preocupações dos alquimistas com a saúde e a medicina. Vários alquimistas são considerados precursores da moderna medicina, e dentre eles destaca-se Paracelso.
A busca por esta pedra filosofal é, em certo sentido, semelhante a busca pelo Santo Graal das lendas arturianas. Em seu romance Parsifal, Wolfram von Eschenbach associa o Santo Graal não a um cálice, mas a uma pedra que teria sido enviada dos céus por seres celestiais e teria poderes inimagináveis.
Ao longo da história a criação da pedra filosofal foi atribuída a várias personalidades, como Paracelsus e Fulcanelli, porém é inegável que a lenda mais famosa refere-se a Nicolas Flamel, um alquimista real que viveu no século XIV. Segundo o mito, Flamel encontrou um antigo livro que continha textos intercalados com desenhos enigmáticos, porém, mesmo após muito estudá-lo, Flamel não conseguiria entender do que se tratava. Segundo a lenda, ele teria encontrado um sábio judeu em uma estrada em Santiago na Espanha, que fez a tradução do livro, que se tratava de cabala e alquimia, possuindo a fórmula para a pedra filosofal. Por meio deste livro, conseguiu fabricar a pedra: segundo a lenda, esta seria a razão da riqueza de Flamel, que inclusive fez várias obras de caridade, adornando-as com símbolos alquímicos. Ao falecer, a casa de Flamel foi saqueada por caçadores de tesouros ávidos por encontrar a pedra filosofal. A lenda conta que, na realidade, ambos, Flamel e sua esposa, não morreram, e que em suas tumbas foram encontradas apenas suas roupas no lugar de seus corpos.
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