Passaram dois meses. Passaram demasiadas horas. Dia atrás de dia percebíamos que Hoje Amália era ainda mais conhecida, divulgada, re-ouvida, descoberta. Hoje entendíamos, dia atrás dia que a nossa missão de relembrar Amália a novas gerações e não só, estava a ter resultados. Dia atrás de dia nas entrevistas sempre o dissemos – Este é um disco, tal como era Amália, sem intermediários, realizado e difundido directamente ao público. Pelo meio não houve unanimidade de crítica, ainda bem, Amália também não a tinha. Pelo meio houve a sensação diária que o disco estava na casa, no carro, nos caminhos ao trabalho, nas vidas das pessoas. Pelo meio houve a sensação que o disco Amália Hoje não podia morrer nas prateleiras das lojas e muito menos nas casas das pessoas que o viviam todos os dias... Pelo meio entendemos que o disco era das pessoas. Hoje damos continuidade ao disco. Queremos em palco agradecer às pessoas, aquelas que directamente e tal como sempre acreditámos, responderam “Sim” à ideia de recriar Amália pop. Hoje os palcos vão dizer obrigado. Nós no final de cada concerto limitamo-nos a fazer uma humilde vénia ao público. Pelo público, ou se quiserem, pelo povo...
Em palco os Hoje, Sónia Tavares, Fernando Ribeiro, Paulo Praça e Nuno Gonçalves, tocam ao vivo as canções do disco Amália Hoje. Fazem-se acompanhar de uma Orquestra e do Coro de vozes que gravou em estúdio as canções pop de Amália. Em palco não prometemos xailes negros nem guitarras Portuguesas, haverá espaço sim para uma Guitarra eléctrica Portuguesa, uma Bateria Portuguesa, e uma dezena de músicos que representam de alguma forma a nova maneira de cantar a pop em Portugal. Em palco não cantamos Fados. Cantamos canções pop que sempre mereceram mais espaço, mais cor e se me permitem, mais pop. Em palco haverá uma coisa apenas, alegria. Alegria por encerrar com chave de ouro um projecto que sempre quis viver de verdade. Gostamos de verdade destas canções, rimos, choramos, rasgamos a pele por elas. O palco é verdade absoluta. O palco é presente. Hoje o palco é nosso. O palco é vosso, se quiserem uma vez mais, do povo.
Havia um objectivo... Ao início fomos de alguma forma intimidados pelo peso do Fado. As canções que Amália cantou. Era fado. Ela simbolizava o Fado. Mas Hoje, ao olhar atrás, ouvindo os discos, analisando tudo o que a Amália fez “conseguimos” perceber que Amália era muito mais que Fado. Era muito mais que um estilo pontuado e apoiado por duas guitarras e um vestido negro. Amália... O que era para mim Amália... Amália foi a primeira e talvez única artista Pop que Portugal teve. Porque ser Pop é não ter fronteiras. Ser Pop é respirar aquilo que se canta. Hoje consegui perceber que as canções eram obras históricas de cultura pop. Cultura Pop. Amália era a capa dura que cantava. Amália era a voz. Mas atrás das letras, do tom triste e melancólico haviam melodias, harmonias que queriam mais espaço que umas tristes duas guitarras. As canções que Amália cantava tinham cor. O resto era estética. Na sua essência Amália era Pop. E foi assim que decidimos criar os Hoje.
Mais que Fado. Muito mais que Fado. Hoje é um País novo. Hoje é dizer ao mundo que Amália era Pop. Se ninguém ainda tinha pensado nisto... Ao escutar as canções que escreveram para Amália desde logo imaginei texturas pop. Um elogio à canção cantada em Português. Hoje é um marco. Poderá fazer história mas na sua essência as canções sempre estiveram aqui. Hoje é um olhar adulto sobre aquilo que de melhor Amália tinha, cor.
Sei de cor as canções. Elas, as canções, Hoje são vida, esperança e a eterna saudade que hoje se escreve de todas as cores. Se Portugal é só Fado então o Pop é a preto e branco. Hoje Portugal tem vozes que conseguem dizer que Amália era mais que fado.
Amália Hoje é um disco. Reúne três vozes distintas. Fernando Ribeiro dos Moonspell, Paulo Praça de mil e um projectos e Sónia Tavares dos The Gift. São produzidos, idealizados e arranjados por mim que antes de ser dos The Gift sempre fui Português.
Amália Hoje é um disco que sairá em breve. Canções que vivem para alem dos vestidos pretos e das guitarras Portuguesas. Hoje é um grito. Hoje é um dizer basta. Amália é muito mais que fado. Amália é pop e este disco será a prova que Fado é redutor para a voz que brindou o mundo e ainda mais redutor para os compositores que imaginaram as melhores canções pop de sempre da história da música portuguesa. Hoje é um veiculo pop sem fronteiras nem barreiras, sem concepções nem travões. Hoje é aquilo que quisemos que Amália hoje fosse.
Hoje somos todos aqueles que acham que Portugal é muito mais que aquilo que se mostra. Hoje é história. Hoje somos todos nós.
Sónia Tavares (The Gift), Fernando Ribeiro (Moonspell), Paulo Praça (Plaza) e Nuno Gonçalves (The Gift) subiram esta segunda-feira ao palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para apresentar numa versão pop canções eternizadas por Amália Rodrigues. Sem o xaile negro ou as guitarras portuguesas tão características do fado, os músicos que levaram a cabo este projecto conseguiram trazer até à sala lisboeta avós, pais e filhos.
Acompanhados pela Orquestra Nacional Sinfónica da República Checa e pelo coro de vozes que participou nas gravações do disco de estreia, os Amália Hoje mostraram que vale a pena olhar com outros olhos para as letras de tom triste e melancólico que a diva do fado interpretou em vida. No ano em que se assinala precisamente uma década sobre a morte da fadista, este projecto, idealizado e produzido por Nuno Gonçalves, presta, sem dúvida, uma homenagem à mulher que levou Portugal além fronteiras com a sua voz.
Foi com uma nova versão do tema «Com Que Voz» que o trio, acompanhado pelo mentor do projecto ao piano, deu início ao espectáculo sob o olhar atento do público. Mas o maior aplauso da noite foi para Sónia Tavares, que neste projecto é responsável pelo regresso da música «Gaivota» ao panorama musical numa versão que tem conquistado um sucesso estrondoso.
Assiste aqui às três primeiras músicas: See here the first 3 songs live. Good sound and image:
Diversas vezes de pé, o público cantou, dançou e aplaudiu as canções que compõem o álbum lançado a 27 de Abril. O disco já alcançou a tripla platina e, tal como Nuno Gonçalves fez questão de referir em tom de brincadeira, só abandonou a liderança do top de música nacional «devido à Hannah Montana».
E porque até a grande diva do fado cantava noutras línguas que não o português, os músicos decidiram incluir no alinhamento do concerto o tema «L`importance C`est La Rose», que Nuno Gonçalves conseguiu recuperar, bem como um pequeno vídeo de um ensaio de Amália com Alain Oulman, em que preparavam o tema «Soledade». O músico descobriu as imagens há cerca de uma semana e meia atrás e no espaço de apenas quatro dias conseguiu dar uma abordagem pop ao tema.
Clica para veres as fotos:
Já na recta final do espectáculo, seguiram-se os habituais agradecimentos, Sónia Tavares convidou o público a cantar a música «Gaivota» ao som do piano, foram entregues flores aos músicos e Amália Rodrigues voltou a ser recordada num bonito gesto por parte dos mesmos.
«Se há coisa que ela gostava era de gente e de flores, por isso, eu vou distribuir as minhas», disse Nuno Gonçalves, cujo exemplo foi seguido pelos companheiros.
Coube a Fernando Ribeiro, provavelmente a presença que mais tem surpreendido neste projecto, terminar o primeiro de três concertos na sala lisboeta com a música «Formiga».
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